quinta-feira, 25 de junho de 2009

Milícia de um homem só


Certo dia, um conhecido me contou que estava em um onibûs ainda na época dos vales e dinheiro vivo, e começara uma grande confusão entre o trocador que continuava na sua cadeirinha lá na frente e um passageiro que sentava no último banco no fundo da lata de sardinha. Eles discutiam a respeito do pagamento da passagem. O trocador afirmava que ele não tinha pago ao passar pela catraca, enquanto o destemido passageiro gritava que tinha entregue o dinheiro para ele. Conversa, vai, conversa vem, começaram uma grande discussão com trocas de amorosas palavras e incentivos ao lado oposto da vida, o ranca rabo começava a ficar mais quente e o trocador cada vez mais o ameaçava. De repente, o passageiro grita bem alto em tom de intimidação:

- Sabe com quem você está falando seu otário.

Todos no Busão trocaram olhares curiosos, alguns entreabertos fingindo total desinteresse no que o rapaz falaria, mas a maioria esperava com grande ansiedade, a ferrada que o trocador iria ganhar com aquela boa obra que tinha começado. E o troqueiro respondeu:

- Com que estou falando, com que estou falando. Com quem babaca?

O passageiro gritou mais alto ainda:

- Sou coveiro! Seu trouxa!

O transporte coletivo foi abaixo em gargalhadas, o que resultou na descida do coveiro fazendo gestos obscenos e obscuros, e eu aqui fico me perguntando. Será que se todos ficassem calados naquele momento, o coveiro concluiria a sua intimidação? Penso que assim seria:

- Se um dia você morrer eu vou te enterrar Rapá. E vou te encher de pazadas.

- E te jogo em um buraco úmido e frio heim.

- Rasgo suas roupas e furo seus olhos.

- E de quebra! Levo essa correntinha brega que tem no pescoço, e raspo esse bigodinho piegas que tem na cara!

- Morre pra você ver!


Cada uma viu. Depois eu que sou doido.